quinta-feira, 21 de abril de 2011

Geração à rasca

"Geração à rasca foi a minha"

Foi uma Geração que viveu num país vazio de gente por causa da emigração e da guerra colonial(*), onde era proibido ser diferente, pensar que todos deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à segurança social.


Uma geração que, devido à guerra colonial, foi obrigada a abandonar a família, bem como, uma parte significativa de jovens, os estudos académicos, durante pelo menos dois anos.


A maior parte já não conseguiu retomar os estudos, tal o efeito psicológico da guerra.
Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.


Uma geração que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.
Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto, casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras porque sim, pais biológicos, etc.


A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país ou de ler-lhe a correspondência.


Os televisores LED, ou a 3 dimensões eram uns caixotes a preto e branco onde se colocava à frente do ecrã um filtro colorido, mas apenas se conseguia transformar os locutores em ET's desfocados.


Na rádio ouviam-se apenas 3 estações - a oficial Emissora Nacional, a católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Não tínhamos então os Gato Fedorento, mas dava-nos imenso gozo ouvir Os Parodiantes de Lisboa, ou a Voz dos Ridículos.


As Raves da época eram as festas de garagem, onde de ouvia música de vinil e se fumava liamba das colónias. Nada de bares ou danceterias.
As Docas eram para estivadores, e O Jamaica do Cais do Sodré para marujos. A "Night" era para os boémios. Éramos a geração das tascas, das casas de fado e das "boites" de fama duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como a Valentim de Carvalho ou a Vadeca.


As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que a nossa juventude enviava lá da guerra aos pais, noivas, namoradas ou madrinhas de guerra. Agora vivem na Internet, ora alimentando números de socialização no Facebook, ora cultivando batatas no Farmville. O SMS e E-Mails cheios de k e vazios de assentos eram as nossas cartas e postais ou papelinhos contrabandeados nas aulas.

As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas por via marítima. Quem não se lembra do Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia, do Uíge, entre outros, tenebrosos navios que, quando embarcávamos, só tínhamos uma certeza - aviagem de ida, quer fosse para Angola, Moçambique ou Guiné.


Ginásios? Só nas colectividades. Os SPAS chamavam-se Termas e só serviam doentes. Coca-Cola e Pepsi? Eram proibidas. Bebia-se laranjada, gasosa ou pirolito.
Agora IMAGINEM, o que teriam para contar e escrever sobre a sua geração, se o soubessem fazer os analfabetos, nascidos na década de 30 e 40 do século passado, que viveu os despojos da 2ª. guerra mundial e todos os seus efeitos posteriores, desde o RACIONAMENTO, com o uso de SENHAS, que condicionavam
os bens mais comezinhos, como o acesso ao carvão, às bolas de carvão, ao petróleo para uso nos fogareiros, limitava o número de pães/carcaças às famílias, não havia azeite, açúcar bem como a maioria dos bens alimentares, as famílias completas com 4 e 5 filhos, viviam em buracos telúricos, barracas,quartos ou partes de casa alugadas, as pessoas andavam descalças, rotas mas
sem ser por moda, passavam verdadeira fome, empenhavam tudo o que havia em casa à 4ª.Feira, para depois levantar da casa de penhores, se pudessem, ao sábado, dia de receber o reles salário, num ciclo vicioso.


Os atrás citados, são a geração dos actuais avós ou bisavós, que ainda vivos continuam a não contar aos descendentes por vergonha do seu passado e depois na ânsia de darem uma vida melhor aos seus filhos e netos os estragaram com mimos e benesses e contribuíram inconscientemente, para que eles enveredassem desmesuradamente pelo consumismo de toda a ordem, criando
uma dívida descomunal sem procedentes na história do país.


Na minha geração, dos jovens só se esperava que fossem para a tropa ou emigrassem.


Esta é que é uma verdade insofismável que poucos têm a coragem de contar.

(Desconheço o autor)

Pós-texto:
Ao publicar este texto que me foi enviado por mail, não pretendo fazer um exercício de cinismo, até porque reconheço que a actual geração está defrontada com graves problemas que têm de ser resolvidos. Estamos a assistir quase a um conflito de gerações que não interessa a ninguém e que pode ter consequências muito desagradáveis. As diferentes gerações não se podem desviar do objectivo comum que é conseguir condições de vida para enfrentar o futuro com um mínimo de êxito e dignidade. Os mais velhos têm de ajudar os mais novos, mas estes não podem, nem devem depender, toda a vida, dos pais e avós. É este o desafio que eles têm de enfrentar hoje, tal como nós enfrentámos os nossos desafios e dificuldades no passado. Até por que dispõem de melhores condições para o fazer. Para isso torna-se necessário obrigarem os políticos a mudar o de rumo deste país, com novas políticas, onde não seja permitida a corrupção, o compadrio e a falta de sentido de Estado que nos levaram  à actual situação. E a actual situação é, em síntese, como disse hoje António Barreto,no programa Portugal e o Futuro na RTP, a seguinte:

"Portugal rendeu-se. O Estado faliu.Estamos a ser governados por maus políticos.
O essencial que se exige à classe política, é que respeitem a dignidade das pessoas. Informem as pessoas sobre os problemas que existem. Todos têm direito a ser devidamente informados e os políticos têm o dever de informar e esclarecer. As pessoas não têm que se submeter àquela manada robotizada que está no parlamento."

Aqui reside o nó górdio do problema: a não submissão nem à tal "manada", de que fala António Barreto, nem aos que levaram Portugal à ruína. Para que isso aconteça é imperativo ter energia, imaginação e força de vontade sem o que nenhuma geração se salvará.
Portugal só se rende se os Portugueses baixarem os braços!...






2 comentários:

  1. Mito bom. Brilhante, É tudo isto que aqui descreve. Abraço e boa Pascoa

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  2. E o que aqui se descreve ainda não é tudo, infelizmente.
    Retribuo os votos de boa Páscoa.

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