domingo, 6 de fevereiro de 2011

Nem todos voltaram...

Estive a ler as declarações de António Lobo Antunes sobre a guerra colonial nas vésperas de se comemorarem 50 anos do seu início em Angola e não 40 como é referido no suplemento Tabu do semanário Sol.
Na realidade o conflito teve início em 4 de Fevereiro de 1961 com ataques quase simultâneos de grupos diferentes: à Casa de Reclusão Militar que não passou de uma tentativa tendo morrido um cabo, e à Cadeia Comarcã de Luanda. Momentos antes foram abatidos sete elementos das forças de segurança, PSP ou equiparados, que “acorreram a uma falsa chamada de socorro.” O autor ou autores da sublevação estão aqui referidos com todos os pormenores.

Lobo Antunes participou na guerra como Alferes Milº Médico e por isso é uma figura de algum modo qualificada para se pronunciar sobre a sua experiência e a experiência dos soldados e quadros envolvidos no conflito. Destaca “o sofrimento, a revolta, o horror daquilo tudo.” Refere-se a Melo Antunes como um homem frontalmente contra a guerra, que tinha jurado levar todos de volta a casa o que não aconteceu. ”Até à altura em que um rapaz ficou sem uma perna, tendo dito depois: “Vamos vingar a perna do Ferreira”.

É a partir de casos destes que a guerra começa a ser uma questão pessoal e a retaliação um impulso imparável. Aqueles que nunca mais “esquecem” são ainda hoje vítimas dos excessos havidos dos dois lados. …
Diz, Lobo Antunes na sua entrevista, que ainda não se fez “O Grande Livro sobre a Guerra”. E na verdade assim é, porque há coisas que nunca foram ditas pelos nossos ex-combatentes nem por aqueles estiveram em barricadas opostas. E jamais serão ditas pelas potências estrangeiras que por cobiça, mais do que pelo pretexto da defesa dos direitos humanos, que ainda hoje não existem em África, e da auto determinação dos povos, tinham interesse em acabar com a influência Portuguesa em Angola, bem como nos outros territórios ultramarinos.

O dever e a razão que nos assistiram na “arrancada para Angola e em força”, para defender os nossos compatriotas, não foram postos em causa pela maioria dos Portugueses de então. O esmorecimento e a contestação vieram depois. O regime não conseguia resolver o problema do ultramar. Por isso é que aqueles que consideravam sua, a guerra para onde os enviavam, começaram a sentir que aquela deixara de ser a guerra do seu País que, entretanto, sofria já as dores de parto de uma futura revolução. Esta surgiu em 25 de Abril de l974, depois de muitos sacrifícios e perdas de milhares de vidas de militares que cumpriram honradamente com o seu dever.

Felizmente a guerra acabou. Angola conseguiu a independência a que tinha inteiro jus. Mas, tanto sangue derramado de ambos os lados, merecia outra descolonização que, no entender do próprio Melo Antunes, um dos principais obreiros de Abril libertador, "deveria ou poderia ter sido outra", para bem de ambas as partes.
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1 comentário:

  1. (...)"pelas potências estrangeiras que por cobiça"...
    Aqui são duas as potências que mais contribuiram para a destabilização:
    "Os únicos que conheciam Angola eram os portugueses. A sua saída, provocada pelos soviéticos e pelos norte-americanos, foi a nossa ruína. Os primeiros fomentaram-na para melhor dominar o país, os segundos para provocarem o colapso do regime socialista e poderem, depois,explorar Angola como aconteceu-sublinha-me a poetisa Alexadra Dáskalos, natural do Lubango.
    (Do livro Nascido do Estado Novo de Fernando Dacosta a pg.s 299)

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