sexta-feira, 13 de maio de 2011

Por um Portugal que amo




“... De vez em quando recaio na escrita sorumbática, muito grave e sisuda. Dizem-me logo: é o melhor de si, coisa séria, ‘profunda’. Mas logo nos acomete a suspeita de que estou a ser chato, e viro para uma coisa leve, mais coloquial e digestiva. Dizem-me: é o mais suportável, mais distractivo. E nestes dois pólos me balanço, sem saber onde fixar-me. Mas vale-me não fazê-lo por determinação e sim pelo impulso do momento. Assim vou dando resposta a uma dupla procura. Simplesmente os que defendem a coisa ‘profunda’ é na ligeira que se sentem mais recompensados. E os que defendem a ligeireza é na outra que se sentem justificados nas suas ambições, porque gostam de coisa ligeira, sim, mas não o dizem que gostam para parecerem cultivados. De modo que o melhor é ir temperando a prosa segundo as duas receitas. Ou então, que é ainda o melhor, ficar calado. Vou pensar a sério na Segunda alternativa.” Vergílio Ferreira in Conta-Corrente 4


Este trecho é mais um indutor da ideia que há algum tempo me persegue.
Para quê escrever num blogue, se não podemos agradar a "gregos e troianos"? Se corremos o risco de expor os nossos sentimentos e até mesmo alguns ideais políticos desvinculados de amarras partidárias? E pior do que isso, se não podemos escrever o que sentimos, sem correr o risco de sermos acusados de ser pretensiosos, ou de estar a contribuir para interesses pessoais inconfessados ou de fazer o jeito a alguém, concitando com isso inimizades pessoais desnecessárias?


A actual situação de crise, para mais em vésperas de eleições, é propícia à intervenção política dos media, dos bloggers, da propaganda situacionista e de toda a sorte de escribas ao serviço de interesses políticos conhecidos. E serão verdadeiramente políticos e nacionais os interesses em causa? A avaliar pelos resultados, não.


Alguns dos partidos que estiveram no poder até hoje, têm sido dirigidos por elites que se afastaram paulatinamente dos seus ideais, manipulados por alguns lóbis de interesses e apoiados por acólitos que têm sido beneficiados, unilateralmente, com sinecuras e privilégios, fazendo tábua rasa, não poucas vezes, dos legítimos direitos da maioria dos cidadãos. Partidos que não souberam ou não quiseram investir, os largos milhões de euros vindos da UE para o desenvolvimento sustentado do País. Por isso se chegou à actual “apagada e vil tristeza" de dependência económica e financeira, e não só, provocada por uma dívida que responsabiliza as próximas gerações por muitos anos.


Sem políticos de prestígio; sem alguém que tivesse tirado lições do passado recente, com as duas intervenções do FMI no País; sem uma política que sirva os nossos verdadeiros interesses, pois quem a impõe são os nossos credores, Portugal limita-se hoje, a uma situação de dependência vergonhosa e a cumprir as exigências que lhe são impostas pelos areópagos do poder da EU, contaminados pelos interesses discriminatórios da ditadura do capital (FEEF/BCE/FMI) que vai infernizar a sobrevivência da classe média e de outras classes sociais mais débeis.
A própria independência Nacional está em risco.


Sinto pena e revolta por ver que os  mentores da mentira despudorada, fazem carreira com as más políticas que destruíram as nossas legítimas aspirações pós 25 de Abril.
Lamento a situação a que nos conduziram e a que conduziram uma Pátria construída com muito esforço e com uma história linda. Pátria que contempla envergonhada alguns dos seus filhos (?) por não saberem ou não quererem fazer opções para garantir a sua perenidade mas, outrossim, o “futuro” deles… Mas, por mais que escreva, não posso alterar (passe a pretensão) o que fizeram. E muito menos o meu voto, ou voto disperso dos portugueses, o poderá fazer. O sistema e a propaganda tendenciosa e arregimentada, com um único propósito de se manterem no poder a qualquer custo, não o permitem.


Alguma coisa tem de mudar e o povo tem de perceber isso!...


Sinto-me defraudado e desiludido com esta UE que não sei bem como começou (a mim não me perguntaram nada) nem como vai acabar. Sou um eurocéptico, talvez por alguma ignorância mas, também, por alguma experiência. E, valha a verdade, não gostava de o ser.


Parafraseando Vergílio Ferreira, entre o escrever com ligeireza e de coisa sérias ou demasiado sérias, como decidi fazer hoje, “o melhor é ir temperando a prosa segundo as duas receitas.


Ou então, o que é ainda melhor, ficar calado.”


A partir de agora, “Vou pensar a sério na segunda alternativa”, apesar de tudo por um Portugal que amo!...









3 comentários:

  1. Amigo Fadigas
    Por favor, não se deixe abater por desânimos que serão passageiros, certamente.
    Escreva, escreva sempre, pois "quem canta seus males espanta"...
    Abraço.
    J. Cascão

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  2. Obrigado, Caro Maestro. Mas, isto está muito mau mesmo.
    Abraço

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  3. ATENÇÃO
    Nas próximas eleições os eleitores que votarem, acreditando nas promessas dos políticos que forem além do que está estipulado no acordo de ajuda externa, FEEF/BCE/FMI, ou estão pura e simplesmente a ser enganados ou divorciados da realidade.

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