quinta-feira, 28 de julho de 2016

Da terra do Limonete à terra da Welwitschia Mirabilis

Welwitschia Mirabilis

Esta é uma história que nunca sonhei escrever.
Pouco depois de desobrigado do serviço militar e meio recuperado do esforço feito de três comissões de serviço, dei comigo a pensar em África.
Novamente Angola, para o melhor e para o pior, não me saía da cabeça. Paradoxalmente, Angola, onde tanto sofri, mas que tanto amei. Os horizontes da então chamada metrópole eram curtos e estreitos, assim como eram estreitas as ruas e estradas das povoações do "puto", como diziam, na gíria angolana, negros e brancos! Acresce que eu já tinha bebido da água do Bengo e, quem o faz, jamais esquece aquelas terras africanas e as suas gentes.

Aceitei um contrato de trabalho que me fora oferecido como administrativo (Lar do Namibe) e decidi regressar levando comigo a minha cara metade, contrariando todos os nossos familiares que, aflitos, tentaram, sem êxito dissuadir-nos de tal aventura.
A 7 de Janeiro de 1970 (uma 4ª.feira), depois de um voo em avião da TAP, Lisboa, com escala em Luanda, tomámos um avião da DTA e demos connosco a desembarcar no aeroporto de Moçâmedes.
Momentos antes, a minha mulher que vinha olhando pela janela do avião para o deserto do Namibe, perguntou-me com uma lágrima furtiva nos olhos: é para aqui que tu me trazes? Não dei parte de fraco, mas, intimamente, não deixei de lhe dar razão, porque à primeira vista, o cenário do deserto de Moçâmedes que envolve a cidade contra o mar, assusta quem o vê pela primeira vez. Porém, a realidade, nos meses seguintes à nossa chegada, era bastante diferente das primeiras impressões.
A cidade de Moçâmedes, com um micro-clima maravilhoso, não só era muito bonita, como se parecia até muito com a Figueira da Foz em alguns aspectos. O seu porto de mar e a sua linda praia das Miragens, são bem a prova disso, além de que, parecendo quase um milagre, o deserto no tempo das chuvas até fica lindo, com uma rasteira vegetação completamente verde.
E, foi aqui, numa terra aparentemente inóspita, que um milagre maior se deu porque nasceram-nos dois filhos que são a nossa alegria: o Miguel e a Vera que nos seus primeiros anos tanto conviveram com os seu amiguinhos de cor.

Hoje ao recordar-me de Moçâmedes, terra da Welwitschia Mirabilis, não posso deixar de fazer a analogia com Tavarede, terra do Limonete. Ambas foram e são importantes para mim: uma por ser um embrião ancestral da minha família; a outra por lhe ter dado continuidade. Por várias razões e sobretudo por esta , é que me lembro com saudade e amizade de todos os homens, mulheres e crianças, brancos e negros da cidade do Namibe que lá estão e estiveram. Desejo a todos as maiores felicidades e espero que o esforço dos homens de bem não tenha sido em vão para o povo Angolano.


Vista aérea de Moçâmedes





Praia das Miragens



O Miguel de pé e a Vera ao colo da mãe

Avenida da Praia do Bonfim




Nota:
Reposição de texto publicado em 14 de Julho de 2009 por ter desaparecido do blogue.

2 comentários:

  1. Saudades Moçâmedes.
    Passeio de domingo á tarde com lunche de prego Minhota.
    Aulas na escola central.
    Fim semana na baía dos tigres.
    Ostras gigantes do Saco...
    Enfim , tão felizes 🥰🥰

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Claro. E os caranguejos da horta no Mamede, com uma só tenaz que eram um bom petisco. Moçâmedes tinha excelentes lugares e recantos de beleza e lazer.

      Eliminar

Os comentários serão publicados após análise do autor do blogue.