Política de interesse
Em Portugal não há
ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta
igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes
dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso,
diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela
vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades
contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do
ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o
desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem
na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em
volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes
vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há
a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se,
atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os
desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam
ali com dor e com raiva.
À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos
(...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos
cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos
da vaidade.
Eça de Queiroz, in Ditrito de Évora
Com as necessárias adaptações onde avulta o facto de agora, homens inteligentes e sérios não se quererem meter na política, salvo alguns raros exemplos, aí temos um retrato dos políticos de hoje.
Eça de Queiroz, que via muito para lá do seu tempo, sabia bem de que massa eram feitos os governantes domésticos e o que verdadeiramente os levava, e leva, a entrar na vida política.
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