sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Os Morros de Nóqui


Livro da autoria do escritor, Cláudio Lima que esteve na guerra em Angola em 1969 com a patente de Alferes Milº. integrado no B.Artª. 1922/C.Artª-1726 que não deixa de surpreender quem esteve na guerra colonial, no caso vertente em Angola. Dei por este livro há algum tempo na Internet e só há cerca de três dias a livraria Bertrand mo entregou. Li-o de uma assentada.
Ao tempo (minha terceira e última comissão por imposição, sempre em Angola) também fiz parte do mesmo Batalhão, C.Artª. 1725, do autor do livro e posso dizer que a minha passagem por Nóqui foi uma das experiências que mais me marcaram, negativamente, enquanto militar.

"Nóqui é uma província de Angola que foi território português até 1975 e se tornou independente após o advento do 25 de Abril. Como se sabe, foi para Angola ,que se destacaram à pressa milhares de portugueses, combatentes, para defenderem  pessoas e bens da guerra colonial que teve início de 15 de Março de 1961 com a sublevação no Norte da Província, região dos Dembos, que foi teatro  do massacre indiscriminado, pela UPA, de fazendeiros, mulheres e crianças e até de negros, assalariados, da etnia bailunda que trabalhavam na produção e colheita do café. Alguns dos primeiros militares enviados para Angola da C.Artª. 87, no início da guerra, onde me incluo, ainda assistiram em parte, ao cenário e às consequências  de tão trágicos acontecimentos.

  Com o seu livro,“Os Morros de Nóqui”, mais de 30 anos depois do final do conflito armado, Cláudio Lima, pseudónimo de Manuel da Silva Alves, descreve-nos a sua perspetiva da guerra colonial. Uma guerra que ele se viveu dois anos e que conheceu como muitos outros que por lá passaram..." 

O autor faz um advertência logo no início do seu livro: "São ficções o que aqui te proponho". Mas, segundo a crítica que subscrevo, os: "Episódios da guerra, entre o pícaro e o trágico, transmitidos por uma caneta talentosa", ficam, quanto a mim, aquém da realidade, muito mais dolorosa, de que autor com o seu estilo, porventura, evitou falar com mais crueza, por pudor ou para não acordar os fantasmas das experiências dantescas por que passaram muitos combatentes.
Nóqui foi mais uma má recordação da nossa presença em Angola, quer no aspecto da guerra, quer nos bastidores da mesma, onde não pouca vezes pontificaram a arrogância e os abusos de alguém mal intencionado dentro das fileiras e bem assim dos abusos de muitos dos torcionários da polícia política de então. Por isso eu digo que há muitos aspectos da guerra colonial que continuam por contar.
 
Livro a ler por quem gosta desta temática da guerra colonial.

Não posso deixar de dar os meus modestos parabéns ao meu distinto amigo e ex-camarada de armas que é um consagrado escritor que tem recebido elogios de muitos dos seus pares e na imprensa da especialidade que, como é referido acima, diz, referindo-se ao presente livro:"Episódios da guerra, entre o pícaro e o trágico, transmitidos por uma caneta talentosa"...
 




2 comentários:

  1. Obrigado, caro Amigo. A análise e respetiva conclusão têm inteiro cabimento. Mas, como digo na nota introdutória, eu evoquei factos distantes recorrendo a brumas de memória, não me propondo a refazer ou sequer subsidiar a realidade histórica. Sou escritor: não sou historiador. O livrinho teve bastante sucesso, com duas edições praticamente esgotadas. Grande abraço do Cláudio Lima.

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    1. De acordo. É escritor e dos bons com o que eu me congratulo. Descobrir e ler o seu livro foi uma agradável surpresa. Eu leio tudo o que diz respeito à temática de uma guerra que não desejámos, mas que fomos obrigados a fazer. Ler ou escrever é uma forma de catarse para quem ainda não esqueceu os maus momentos por que passou. Continue a libertar essa extraordinária veia literária na certeza de que vai conseguir novos êxitos e a admiração dos seus amigos em particular e do público leitor em geral. Retribuo o seu grande abraço.

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