quinta-feira, 1 de julho de 2021

My country, right or wrong

 


(…) Digo isto para que fique bem claro que sou homem de paz, nada dado a revoltas e violências, o que não impede que, sonhando acordado, me veja a conceber estratégias para solucionar a nossa desgraça, às vezes perguntando quantos serão os senhores que detêm o poder em Portugal. Serão seiscentos? Setecentos? Mais do que isso não serão, tenho quase a certeza que aos mil não chegam, e se uma tarde se agrupassem no Terreiro do Paço junto da estátua, com tanto turista que por ali anda nem se daria por eles.
Compare-se agora essa mão-cheia de poderosos com os dez milhões que somos, e a conclusão impõe-se: não se trata de desequilíbrio, mas de um absurdo, nada saudável para eles e para nós de proveito nulo. Por vias travessas levou-me isso a pensar na batalha de Aljubarrota, quando trinta mil deitaram a fugir diante de sete mil, mas a comparação é trôpega, pois nem nós nos vemos medrosos como os castelhanos, nem os senhores do poder mostram o talento do Condestável.
De modo que a solução terá de vir por outros meios, mas é bom que não demore e eles se dêem conta de que assim não for só perde quem tem. Nós, os dez milhões, pouco temos para perder. 

J. Rentes de Carvalho-O País do Solidó.

Pós-texto:
Depois de ler na íntegra o fundamental do livro em apreço, não posso deixar de fazer o despretensioso comentário que se segue:

Tal como J. Rentes de Carvalho, acredito que há muitos portugueses a sonhar acordados e a conceber estratégias para solucionar as nossas desgraças que são algumas com destaque para a corrupção. Com efeito somos o País do Solidó que é o mesmo que dizer do Tiro-liro-liro e do Tiro-liro-ló. Só que os protagonistas do Tiro-liro-liro, são os que estão lá em cima e mandam no país e fazem o que querem.

Cá em baixo está o tiro-liro-ló que é o povo, cuja vontade de cantar e dançar a concertina é cada vez menos devido ao elevado custo de vida, aos impostos, ao desemprego e à corrupção para a qual não existe um combate sério. O pretexto da “presunção de inocência” e os offshores são as passadeiras na auto-estrada da corrupção e do enriquecimento ilícito frequentemente usadas por figuras gradas do regime que aproveitam os alçapões da lei para escapar à justiça.

Fomos heróis do mar e nobre povo? Seguramente que fomos. Mas, nas actuais circunstâncias, estamos longe de o ser.
Hoje lutar pela Pátria não é marchar contra os canhões que é um conceito ultrapassado. O 25 de Abril terá feito algum bem? Claro que fez, mas este “venha a nós a roubalheira” tem de ser combatido com coragem e patriotismo e uma nova adenda à letra do hino nacional português: “contra os ladrões,” marchar, marchar…


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