Começa assim o livro, “A peregrinação de Artur Vilar”, do
escritor de origem Figueirense, Eduardo Palaio:
Meu pai, um figueirense dos antigos, quer dizer, daqueles para quem a Figueira
é a terra mais linda e a melhor em tudo, foi quem me falou primeiro, era eu
criança, do Soldado Desconhecido.
Depois, pela Rua Fresca, pela Rua Bela e pela de Santo António, conheci uns
velhotes e que usavam uns emblemas iguais na lapela e que tinha andado com o
Soldado Desconhecido, como aconteceu com o pai do Reis Jorge, meu colega no
Conde Ferreira, de quem se dizia ser gaseado.
Na contracapa, em jeito de introdução, lê-se:
Artur Vilar saiu da Figueira da Foz natal e foi para Angola como voluntário nos
primeiros anos do século XX. Diz de si próprio que foi duas vezes cativo,
entrou numa guerra mundial e em mais cinco campanhas militares, foi quatro
vezes ferido em combate e ficou três meses prostrado na cama por uma cadeirada
que o pai lhe deu; foi conspirador e guerreou debaixo de duas bandeiras e dois
hinos, teve três esposas, foi dono de roça, sapateiro, pedreiro e caçador por
sua conta e por conta de outros; esteve num lazareto, apanhou febre-amarela,
pneumónica e seis biliosas; foi pasto de piolhos, teve destino de branco e de
negro; nunca levou uma medalha, nem ninguém ouviu falar dele na sua terra. Esta
é a história da sua peregrinação, no meio da qual, ao prepararem-se para lhe
fazerem uma raspagem sem anestesia no hospital do Lubango, lhe atiraram
carinhosamente: “Aguenta, Cão!”
NOTA- Faço aqui um despretensioso comentário: Uma história extraordinária, muito bem contada por um escritor de eleição que nos prende até à
última página. Fala de Lavos, Gala, Buarcos e Tavarede. Um livro que todos os Figueirenses deviam ler.
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