sexta-feira, 13 de abril de 2012

O caso Portucale


Os onze arguidos, entre os quais o empresário e ex-deputado do CDS/PP, Abel Pinheiro, foram absolvidos dos crimes de tráfico de influências.

De salientar “uma informação do BES que deu origem à investigação do Ministério Público, dando conta de 115 depósitos em numerário num valor superior a um milhão de euros feitos por Abel Pinheiro numa conta do CDS/PP tendo este partido justificado o montante como donativos provenientes de diversas pessoas, cujos nomes jocosos como Jacinto Leite Capelo Rego, fizeram aumentar as suspeitas.”

Do rescaldo deste caso, como de tantos outros de contornos idênticos, ficará sempre a suspeição, para não dizer a certeza, da promiscuidade que existe entre certas figuras políticas de relevo e o poder constituído o que é uma das maiores nódoas desta democracia pós 25 de Abril.

Mas sobre isto, escreve melhor o comentarista, Manuel Carvalho no Público de hoje, sob o título “Nódoas perenes":

Mais de 500 hectares subtraídos ao património do Estado e vendidos sem concurso a 78 escudos por m2. Despachos de ministros autorizando cortes de sobreiros dias ou horas antes de serem substituídos ou financiamentos partidários de mecenas com identidades tão transparentes como a de um tal Jacinto Leite Capelo Rego…

(…) A Justiça há-de ter, como sempre, mil e uma explicações processuais para justificar os arquivamentos e as absolvições. Os suspeitos dirão, como sempre, que se fez justiça. Mas quem acompanhou todo este processo, desde que um homem politicamente desajeitado mas corajoso como Gomes da Silva o iniciou, não pode ficar tranquilo. Porque um País decente não descuraria as evidências de dolo na forma como se retiraram da esfera pública 509 hectares da CL, quando já se sabia qua a ponte Vasco da Gama passaria a 20 km. Nem abdicaria de questionar o estranho hábito de os ministros despacharem abates de sobreiros, enquanto encaixotam papéis. Nem fecharia os olhos às dádivas extravagantes de personagens de anedota.

A desresponsabilização política e os limites da acção judicial não apagam o caso Portucale. A nódoa existe e, em vez de a limpar, o sistema dissimulou-a. Não foi um infeliz incidente: foi uma vergonha.





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