Aprovado que está este Orçamento do Estado par 2012 (o pior dos últimos 30 anos) que poderá, eventualmente, salvar o País da crise, de uma coisa estamos certos: ele serve os interesses dos tubarões supra nacionais, vai colmatar e branquear a cleptomania interna e produzir mais pobres, precisamente os que não contribuíram para a actual desgraça a que chegámos.
Não temos nada contra os ricos, sobretudo aqueles que obtiveram riqueza graças ao seu trabalho, sabedoria ou investimentos feitos honesta e oportunamente. Já não pensamos assim dos que enriqueceram à custa da corrupção generalizada, dos chicos espertos que, deslumbrados com o poder, se serviram dele para os seus interesses pessoais, das histórias pouco crediveis, se não mesmo parolas dos “robalos e alheiras”, das políticas erradas que minam os alicerces do próprio Estado e põem em causa a credibilidade do País e a própria independência Nacional.
Por isso, e em desespero de causa, foi necessário aprovar um OE que irá sacrificar, seguramente, a maioria do povo, os pobres. E dado que o tema da pobreza, foi sempre uma preocupação dos nossos maiores escritores, fica aqui um texto de Almeida Garrett, que é ao mesmo tempo uma crítica aos políticos de hoje, sobre o que é necessário para fazer um pobre:
Os pobres ( I ) " ... Ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazei caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, essas horas contadas de uma vida toda material, massuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente daquela que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai: reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai - No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana ? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? [... ] cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis. " Almeida Garrett, in " Viagens na Minha Terra ", (1843)
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