Welwitschia Mirabilis
Esta é uma história que nunca sonhei escrever.
Pouco depois de
desobrigado do serviço militar e meio recuperado do esforço feito de
três comissões de serviço, dei comigo a pensar em África.
Novamente
Angola, para o melhor e para o pior, não me saía da cabeça.
Paradoxalmente, Angola, onde tanto sofri, mas que tanto amei. Os
horizontes da então chamada metrópole eram curtos e estreitos, assim
como eram estreitas as ruas e estradas das povoações do "puto", como
diziam, na gíria angolana, negros e brancos! Acresce que eu já tinha
bebido da água do Bengo e, quem o faz, jamais esquece aquelas terras
africanas e as suas gentes.
Aceitei um contrato de
trabalho que me fora oferecido como administrativo (Lar do Namibe) e decidi regressar
levando comigo a minha cara metade, contrariando todos os nossos
familiares que, aflitos, tentaram, sem êxito dissuadir-nos de tal
aventura.
A 7 de Janeiro de 1970 (uma
4ª.feira), depois de um voo em avião da TAP, Lisboa, com escala em
Luanda, tomámos um avião da DTA e demos connosco a desembarcar no
aeroporto de Moçâmedes.
Momentos antes, a minha mulher que vinha
olhando pela janela do avião para o deserto do Namibe, perguntou-me com
uma lágrima furtiva nos olhos: é para aqui que tu me trazes? Não dei
parte de fraco, mas, intimamente, não deixei de lhe dar razão, porque à
primeira vista, o cenário do deserto de Moçâmedes que envolve a cidade
contra o mar, assusta quem o vê pela primeira vez. Porém, a realidade,
nos meses seguintes à nossa chegada, era bastante diferente das
primeiras impressões.
A cidade de Moçâmedes, com um micro-clima maravilhoso, não só era muito bonita, como se parecia até muito com a Figueira da Foz em
alguns aspectos. O seu porto de mar e a sua linda praia das Miragens,
são bem a prova disso, além de que, parecendo quase um milagre, o
deserto no tempo das chuvas até fica lindo, com uma rasteira vegetação
completamente verde.
E, foi aqui, numa terra aparentemente
inóspita, que um milagre maior se deu porque nasceram-nos dois filhos
que são a nossa alegria: o Miguel e a Vera que nos seus primeiros anos
tanto conviveram com os seu amiguinhos de cor.
Hoje ao
recordar-me de Moçâmedes, terra da Welwitschia Mirabilis, não posso
deixar de fazer a analogia com Tavarede, terra do Limonete. Ambas foram e
são importantes para mim: uma por ser um embrião ancestral da minha
família; a outra por lhe ter dado continuidade. Por várias razões e
sobretudo por esta , é que me lembro com saudade e amizade de todos os
homens, mulheres e crianças, brancos e negros da cidade do Namibe que lá
estão e estiveram. Desejo a todos as maiores felicidades e espero que o
esforço dos homens de bem não tenha sido em vão para o povo Angolano.
Vista aérea de Moçâmedes
Praia das Miragens
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O Miguel de pé e a Vera ao colo da mãe |
Avenida da Praia do Bonfim
Nota:
Reposição de texto publicado em 14 de Julho de 2009 por ter desaparecido do blogue.