segunda-feira, 26 de março de 2012
Confissões e "A peregrinaCão de Artur Vilar"
"Meu pai, um figueirense dos antigos, quer dizer, daqueles para quem a Figueira é a terra mais linda e a melhor em tudo, foi quem me falou primeiro, era eu criança, do Soldado Desconhecido.
Depois, pela Rua Fresca, pela Rua Bela e pela de Santo António, conheci uns velhotes que usavam uns emblemas iguais na lapela e que tinham andado com o soldado desconhecido, como aconteceu com o pai do Reis Jorge, meu colega no Conde Ferreira, de que se dizia ser gaseado."´
É assim que começa o livro A peregrinaCão de Artur Vilar de Eduardo Palaio e autor das "confissões" retiradas daqui.
"Artur Vilar, um figueirense, que saíu da sua terra natal e foi para Angola como voluntário nos primeiros anos do século XX e que diz de si próprio que foi duas vezes cativo, entrou numa guerra mundial e em mais cinco campanhas militares, foi quatro vezes ferido em combate e ficou três meses prostrado na cama por uma cadeirada que o pai lhe deu; foi conspirador e guerreou debaixo de duas bandeiras e dois hinos, teve três esposas, foi dono de roça, sapateiro, pedreiro e caçador por sua conta e por conta de outros; esteve num lazareto, apanhou febre amarela, pneumónica e seis biliosas; foi pasto de piolhos, teve destino de branco e de negro; nunca levou medalha nem ninguém ouviu falar dele na sua terra.
Esta é a história da sua peregrinação, no meio da qual, ao prepararem-se para lhe fazerem uma raspagem sem anestesia no hospital do Lubango, lhe atiraram carinhosamente: "Aguenta, Cão!"
Pós-texto:
É extraordinária esta história que conheço há bastante tempo e bem assim extraordinário o poder narrativo do autor que nos prende do princípio ao fim. Vai ao pormenor de citar figueirenses ainda vivos, como é o caso do seu e meu amigo Reis Jorge a quem recomendei o livro em apreço e que, obviamente, recomendo a todos os figueirenses.
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