sexta-feira, 2 de março de 2012

Tragédia e Sonho

Desembarque em Moçâmedes (Namibe) no início do séc. passado

Grutas onde viveram os primeiros portugueses

“Moçâmedes 1849 – Obra de um sonho e de uma tragédia”, é o título em caixa alta com que o suplemento Público (P2) do pretérito dia 1 de Março (Ana Dias Cordeiro) se refere ao lançamento do romance histórico do escritor João Pedro Marques: Uma Fazenda em África.


A história começa em Pernambuco, 1848. “A tragédia dos portugueses - numa noite de ataques indiscriminados na onda de violência de que estavam a ser alvo que levam à morte de pelo menos 20 pessoas - juntou-se ao sonho de um homem, Bernardino de Figueiredo, de criar uma “coisa espantosa” em África” (…)
"A ideia de criar uma colónia brota da cabeça do sonhador Bernardino, português em Pernambuco (que depois de uma aturada investigação escolhe Moçâmedes pelo clima mais fresco e a compara a uma “Sintra de África”) e encontra eco nos desígnios de outro entusiasta, este na Metrópole, Simão da Luz Soriano, funcionário do Ministério da Marinha e do Ultramar, que acreditava, como poucos, que a salvação de um Portugal arruinado estava nas distantes colónias de África e Ásia, sendo possível ao país regressar ao esplendor dos tempos heróicos.

(…) Lisboa decide apoiar e ida de cerca de 300 pessoas em dois momentos diferentes para erguer a colónia… e assim em Pernambuco no dia 23 de Maio de 1849 a todos os que embarcaram no Tentativa Feliz, Bernardino de Figueiredo dissera-lhes: “Gravem esta data a fogo nas vossas memórias e nos vossos corações. (…) Vamos para uma terra imensa, cheia de frondosos bosques, banhada por grandes rios e coberta por um sol criador.”

Nessa época Angola era apenas povoada na costa (Luanda e Benguela) e nos caminhos pelo interior onde os portugueses erguiam pequenas fortalezas e os negreiros negociavam a compra de escravos…

Todos tinham deixado para trás o pouco que lhes pertencia, suspendido a vida, e estado dois meses e meio em alto mar, cruzando o Atlântico, no percurso inverso que durante séculos tinham feito os escravos.

(…) a ansiedade de todos os que entraram no navio Tentativa Feliz com uma imagem idílica do seu destino e saem incrédulos perante a visão oposta da realidade: “É isto Moçâmedes, Sr. Figueiredo? perguntam. “É isto a Terra Prometida?”

O livro, que tenho à minha mesinha de cabeceira, faz-me lembrar episódios marcantes da minha vida, tendo sido a terra do Namibe um deles, como se pode ver aqui.


Também à minha chegada àquela terra angolana, há uns bons anos, a minha consorte proferiu uma frase semelhante à que foi dita pelos pioneiros do Tentativa Feliz, com uma lágrima furtiva nos olhos, que me levou a comprar o romance quase compulsivamente: -É para aqui que tu me trazes?!

A bela e próspera cidade que é hoje, nasceu do nada, graças ao esforço dos portugueses que para lá foram e dos gentílicos que lá haviam.
Ainda há bem pouco tempo existiam grutas nas encostas do  porto da cidade, que foram escavadas a pulso pelos primeiros colonos que ali chegaram em barcos a vapor e à vela, onde viveram durante os primeiros anos. Nos primórdios da colonização muitos foram devastados por doenças, por falta de meios e dificuldades de toda a ordem onde não faltaram guerras contra cobiças alheias… 
Moçâmedes, “terra inóspita numa Angola que inspirava fascínios e medos,” sendo obra de um Sonho mas também de muitas tragédias, bem pode ser considerada, hoje, a Princesa do deserto do Namibe  que isso só faz o  orgulho de  portugueses e angolanos.

(Clicar nas fotos) 


1 comentário:

  1. Os povos naturais do distrito de Moçâmedes eram os Muchimbas e os Mucubais, nómadas por princípio, mas alguns deles sedentarizaram-se e ajudaram os colonos portugueses na construção da cidade.

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