OPINIÃO
A crónica do deputado do PSD, Nuno Encarnação, intitulada “Políticos podem ter passado?, é expressão clara de uma das mais graves patologias da democracia
portuguesa. O filho do ex-Presidente da Câmara enumera diversos
“passados de políticos” criticados na esfera pública para concluir que
um político “Tem direito a errar (…). Mas tem sempre uma mira apontada”.
Sem o mínimo desplante, Nuno Encarnação não condena os políticos com um
passado menos limpo, mas a justiça e os jornalistas que os denunciam.
Ora, o passado dos políticos deve ser escrutinado pelos eleitores e
pelo poder judicial. Exigem-no a democracia, a responsabilidade e o
respeito pela lei. E o passado dos políticos deve ser marcado pela
competência demonstrada por formação ou trabalho, pela ética, e por um
respeito absoluto pela coisa pública.
Tem razão quem denuncia um passado construído nas juventudes
partidárias como a distorção perversa de um sistema que promove pessoas
sem contacto com a realidade e sem competência para o exercício de
funções políticas. É este sistema, onde os jotas aprendem a mover-se em
redes de compadrios, que tem promovido muitos dos titulares de cargos
políticos do PSD, CDS-PP e PS.
Para eles, é natural a rotação entre cargos públicos e grandes
empresas privadas. Na verdade, trata-se de uma promiscuidade inaceitável
com o poder económico que destrói a democracia e inclui crimes graves
como a corrupção.
Há ainda a conversão dos partidos em dinastias com direitos sucessórios. Seria deputado Encarnação se não ostentasse esse apelido?
Que competências tem? De que iniciativa legislativa se orgulha enquanto
exerceu a função? Trabalhou em prol do distrito? Para Coimbra, Nuno
Encarnação não tem passado nem presente. O futuro será garantido numa
empresa privada, por pertencer a uma dinastia do PSD, à falta de diploma
obtido a um domingo ou por equivalências numa universidade privada. Há,
de facto, uma mira apontada sobre os políticos. E é assim que tem de
ser, numa democracia digna desse nome.
Catarina Martins - Prof. universitária - Sacado daqui.
Pós-texto:
À parte a conotação política da docente universitária Catarina Martins, o seu articulado põe o dedo na ferida com muito rigor e verdade. À pergunta de Nuno Encarnação se "Políticos podem ter passado?" deve responder-se que sim, sem olhar às suas origens. Quando nos batem à porta não perguntamos quem foi, mas sim quem é.
O problema de alguns políticos é quererem assegurar o seu futuro por todos os meios e, com esse objectivo, não hesitarem pôr em causa o direito de igualdade e futuro da maioria dos cidadãos quando não o futuro do próprio País.
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