Os ex-militares, ainda sobrevivos, da C.Artª. 87 do extinto RAP 3, vão comemorar no próximo dia 30 de Maio, com um almoço-convívio, a sua expedição a Angola em 1961/63.
A propósito deste encontro dou à estampa um trecho, redigido o ano passado, inspirado numa carta de um Alferes Milº. de Artª., que foi um paradigma de cavalheiro e de soldado exemplar:
"Ninguém se pode vangloriar de uma guerra que em 1º lugar era injusta e em 2º que afectou milhares de jovens e suas famílias. Mas hà lugar à amizade que se criou entre os combatentes e é essa vertente que importa realçar porque os laços de camaradagem, indefectíveis, foram o sustentáculo de muitos daqueles que deram ao País os melhores anos da sua vida. A propósito disto, lembro-me que hà cerca de 43 anos, mantenho uma ligação,estreita, com os meus ex-camaradas da C.ARTª.87ª que foi destacada para Angola em Março de 1961, sobretudo através de convívios. As recordações e as emoções da campanha em Àfrica são muitas e partilhadas por todos e todos não fomos demais para sobreviver às dificuldades e falta de meios. Basta dizer que: "nos primeiros três meses de campanha não tínhamos alimentação que se visse, não dispúnhamos, sequer, de meios de rádio para as batidas e o armamento que nos foi distribuído foram as espingardas "Mauser de 1937" e algumas pist.metr. FBP. Dormíamos debaixo das camionetas e tomávamos banho de 15 em 15 dias ou mais.Tivemos dois mortos em campanha."
Esse ex- alf.mil. da C.ARTª.87ª que se encontra bastante doente (atrofia multisistémica - MSA) foi um excelente oficial e, no seu contacto epistolar dizia, por fim, recordando esses tempos e uma operação de perseguição e busca:-" Éramos uma tropa virgem políticamente, e escrevemos numas pedras negras junto ao acampamento (dos opositores) "Aqui é Portugal". Ele teria nessa altura 25 anos e eu 22.
Essa amizade ainda hoje perdura e, pela primeira vez, não vai poder estar presente no nosso convívio anual, no próximo dia 31 de Maio, por impossibilidade motora devido à sua doença. Mandou-me a carta com cerca de 4 folhas para ler aos ex- camaradas de armas à guisa de despedida...
Se este despretensioso texto esclarecer algo sobre a nossa ida à guerra, a amizade e as recordações dos ex-combatentes dou-me por satisfeito. "
Mas há que tirar ilações do sacrifício de milhares de jovens em prol da Pátria, em Àfrica, para dar tempo a um regime retrógrado que não quis ou não soube fazer uma descolonização atempada, até para não agudizar o ressentimento e a dor, com uma guerra fratricida que durou mais de treze anos e que ameaçava eternizar-se.
Assim, nasceu a "gesta" do 25 de Abril com os militares a entregarem o poder, talvez ingénuamente, á classe política que fez uma descolonização não exemplar, mas a que foi possível fazer.
Mereceu a pena? Aprendi nos meus tempos de estudante que "tudo vale a pena se a alma não for pequena." Só que hoje, meia dúzia de políticos e outros tantos agiotas, têm uma alma tão pequenina que têm transformado o País à sua imagem e semelhança, quiçá, à maneira de pocilga, onde o triunfo, previsível, dos porcos, conduzirá, inevitávelmente, o povo português e a Pátria de Camões, a um destino funesto.