sábado, 25 de setembro de 2010

Portugal ao Fundo (Monetário)

Subordinado ao título em epígrafe transcrevo o texto que se segue que pode ser visto aqui:

"Manuel Alegre pediu aos portugueses para “acreditarem em Portugal e lutarem contra a descrença”. Este apelo, em tom simultaneamente épico e poético - proclamado, provavelmente, com a grave e patriótica voz característica do candidato - impressionou-me. Tanto quanto uma das cenas mais pungentes do “Titanic” (filme): aquela em que o navio se afunda, os passageiros da 3ª classe, irremediavelmente presos à sua condição plebeia, afogam-se e a orquestra, impávida e serena, toca! Para aqueles músicos, a realidade estava já irremediavelmente perdida. A serenidade da referida orquestra, naquelas dramáticas circunstâncias, advinha do facto de os músicos saberem que já nada poderia ser feito. Estavam, inevitavelmente, a breves instantes do fundo do mar.

Alegre, ao contrário da malograda orquestra, parece, contudo, não ter consciência da realidade, aproveitando a grave situação financeira do País e o eminente afogamento das contas públicas para clamar contra aqueles que “não acreditam em Portugal” porque falam do FMI ou pretendem “apelar à senhora Ângela Merkel”. O que sucede – e isto não tem nada a ver com crenças ou com falta de patriotismo! – é que a realidade é pesadamente preocupante, para servir de pretexto a declarações comicieiras de campanha, vazias e pressupondo que todos são cegos, surdos e, sobretudo, parvos!

Aquilo em que muitos portugueses não acreditam não é em Portugal (se bem que seria preciso que alguém explicasse o que é isso de acreditar num país – sobretudo num país que, historicamente, dá mostras de não saber governar-se). O que muitos portugueses já não conseguem acreditar é num Governo que, nos tempos que correm e depois da novela política dos PEC, não consegue estancar a despesa do Estado, alimenta o crescimento da dívida pública à média de 2,5 milhões de Euros por hora e que compra 2500 carros novos. Num governo que mantém mais de 600 fundações, alimentadas directamente pelo Orçamento. O que muitos portugueses já não acreditam é numa meta de 7,3% do deficit público para 2010, quando têm como Ministro das Finanças alguém que, no ano transacto, se “enganou” 5 vezes na previsão e execução orçamentais, entrando, provavelmente, para o “Guiness” por ter tido necessidade de rectificar o Orçamento, outras tantas vezes. Coisa bizarra de incapacidade de previsão, mesmo descontando o facto de ter sido um ano de eleições! O que começa a ser difícil de acreditar é que as coisas possam mudar rapidamente quando o próprio Presidente da República canta a cantiga da necessidade de se viabilizar, a todo o custo, o Orçamento 2011 – Orçamento esse que será preparado e apresentado pelo mesmo Governo e pelo mesmo Ministro das Finanças que faz do “engano” um estado de governação."

Sobre o deficit e o Orçamento não me pronuncio porque o autor explicou isso muito bem mas, sobre a outra parte digo o seguinte:

O conceito de Pátria do citado Manuel Alegre, foi sempre muito diferente da maioria dos portugueses dos anos sessenta.

Se bem me lembro ele começou a fazer o apelo do” patriotismo” há muitos anos, algures em Angola e depois em Argel. Só que o apelo de agora, soa a falso ou, no mínimo, peca por tardio e disso os combatentes não se esquecem.
Num país em que abundam as ideologias dos ismos e, sobretudo, dos oportunismos, os portugueses continuam à espera ( já que outra coisa não querem fazer) que apareça algo ou alguém que tire o País desta "apagada e vil tristeza."


Autor: Pedro Madeira Froufe
(Jurista e docente universitário)

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