Por causa da crise e da dívida pública cuja culpa não pode ser assacada ao povo trabalhador, desenhou-se mais uma vez a velha luta entre o capital e o trabalho nas principais cidade do nosso País integrado (?) numa Europa pretensamente nova, mas que continua a ser velha nas suas contradições e nas aspirações de hegemonia.
Alguns países nórdicos (Dinamarca e Suécia) que pertencem a uma "outra" Europa, são apontados como o paradigma do equilíbrio entre o capital e o trabalho sendo os seus cidadãos beneficiários de um dos sistemas de protecção social mais avançados do Mundo. Alguns países asiáticos estão nos antípodas desse equilíbrio. Produzem mais? Talvez. Mas serão mais felizes ou menos explorados? Não.
A produção deve ser feita na exacta medida das necessidades do povo. Não pode haver excesso de riqueza para uns nem de pobreza para outros sem o que, a harmonia e o bem-estar do homem nunca será possível. Estamos a assistir a uma nova escravatura em que as pessoas não têm direitos, sendo apenas o veículo para o enriquecimento ilícito de uns tantos banqueiros ou oligarquias sem escrúpulos ou de projectos de globalização com fins não esclarecidos, cujos efeitos já sentimos, em que a arraia-miúda não passará disso mesmo arraia-miúda, se os trabalhadores baixarem os braços na defesa dos seus direitos. Os grandes interesses impõem-se. A luta entre o grande capital e o trabalho continua, não tenhamos dúvidas. Aquele engana, esmaga, retira direitos sociais que são ou deveriam ser inalienáveis. O equilíbrio nesta luta é difícil porque o sentido do esbulho continua subjacente no espírito dos que se comportam como tubarões. Há quem diga que as greves não resolvem nada. Não estou tão certo assim. Talvez venham a resolver como já aconteceu tantas vezes no passado. Cruzar os braços na actual situação seria como que assumir a atitude de um rebanho que segue mansamente para a degola. E se o espírito dos predadores continua a ser o mesmo, o sentido de quem faz uma greve tem que continuar a ser o mesmo também. Assim, o "povo tem que parar e perguntar: "SEM OS NOSSOS BRAÇOS QUE FARIAM VOCÊS? PARA QUEM GOVERNAM, AFINAL?" Esta é uma boa pergunta feita no Público de ontem por Rui Tavares.
Se a resposta a estas questões não for dada por quem de direito, políticos e governantes de todas as latitudes, e o tão almejado equilíbrio não se conseguir, ou o sistema acabará por implodir ou estaremos cada vez mais sujeitos a ser utilizados como animais de produção com o destino inglório e desumano do matadouro.
Acredito, porém, que o destino do homem não é, nem pode ser o açougue dos especuladores capitalistas e dos grandes deste mundo. O povo tem que saber o que quer e aliar esse saber à sua força para exigir democracia e a plenitude dos seus direitos. E o direito à greve é precisamente uma das forças de que dispõe e que deve utilizar com peso conta e medida, até que outras se revelem necessárias para a prossecução desses objectivos.
Invocar as más razões dos que nos conduziram à actual situação para dizer mal da greve, não nos parece de bom senso nem legítimo. Seria, sim, de bom senso e legítimo, que quem levou o nosso País nos últimos anos ao descalabro, não o tivesse feito de forma tão irresponsável e dos quais, em boa verdade, pode dizer-se: nunca tão poucos foram culpados da pobreza e da revolta de tantos.
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