Ao dar uma vista de olhos de maneira avulsa pelo suplemento de hoje do jornal Público, chamou-me a atenção a seguinte frase de Mário Soares: “Se for o Manuel Alegre, veremos, mas acho que não (vou apoiar). Tenho uma coisa muito importante que é a minha consciência”. E acrescenta: “Sempre pensei pela minha cabeça. Quando eu suspendi as minhas funções de secretário-geral (do PS) para não apoiar o general Eanes, o partido ficou todo do outro lado e não me importei nada.”
Por muito que se especule a respeito desta decisão do ex-presidente da República, a quem alguém já chamou o “grande actor político, pai fundador da nossa democracia”, o que é certo é que ele não deixa de ser coerente consigo próprio. Não podemos esquecer que nos momentos mais difíceis da jovem democracia portuguesa, Mário Soares tomou sempre as decisões mais correctas, com especial relevância para as que assumiu no Verão quente de 1975. A sua argúcia, hoje, talvez não esteja muito longe dos conturbados tempos de então. Por isso, a sua tomada de posição, irá necessariamente, dividir o PS no projecto “Alegrista.”
Poderão ser polémicas, também, as razões que o levaram, no passado, a não votar Ramalho Eanes que, aliás, foi um bom Presidente da República. Mas, há uma coisa que temos de admirar e respeitar: ele não toma decisões contra a sua própria consciência. Vem a talhe de foice dizer que, neste particular, é a antítese do actual PR.
Talvez existam, para o antigo Senador, outras "razões de coração que a própria razão desconhece." Mas isso faz parte da vida e da inteligência intuitiva. Como dizia António Damásio: “sinto, logo existo.” O que nos leva à conclusão de que Mário Soares existe, que continua a intervir na política com o peso que lhe é reconhecido e com o direito de cidadania que ninguém lhe pode negar!...
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