sexta-feira, 9 de julho de 2010

A reforma da Educação e os jardins de Infância...

(Ex-CEPI-Figueira da Foz)

Carta de um menino aos responsáveis pelo ex-CEPI e Jardim-de-infância da Santa Catarina, Figueira da Foz.

Olá. Sou o F. Sou o menino mais novo a frequentar o ex-CEPI, Figueira da Foz.
Tenho 32 meses e hoje estou triste, muito triste porque à minha volta, só vejo rostos tristes.
O dia mal começou, as educadoras e as auxiliares choram pelos cantos. Tentam disfarçar para nós não notarmos. Querem proteger-nos. O que se terá passado?
Sou pequenino, mas sei que alguma coisa má aconteceu. Mas o quê?
Olho a minha educadora nos olhos e ele abraça-me; gosto tanto deste xi-coração. Mas este miminho é diferente…É como se fosse o último!
Olho-a novamente, nos olhos e ela sorri, eu sorrio também. Assim está melhor!
Hoje é o dia da nossa festa. Vamos lá divertirmo-nos.
A festa vai começar, eu vou actuar, vou cantar. E cantei. Segundo dizem cantei muito bem, apesar da minha idade, não me acanhei frente ao público.
Os meninos mais crescidos actuaram e todos se portaram muito bem. Até cantámos o Hino Nacional. Palmas, muitas palmas.
A actuação vai terminar. Não, afinal não.
A educadora responsável vai falar. Ela é minha educadora e eu gosto dela.
Ela falou, mas eu não percebi. Sou pequenino. Em redor voltam as lágrimas e os rostos tristes desanimados.
Olho para a minha mamã e ela também está triste!
-O que se passa mamã?
-Hoje é o dia de festa de fim de ano e provavelmente será a última festa desta “CASA”, responde a mamã. Continuo sem perceber e pergunto:
-O quê?
A mamã explica melhor:
-O CEPI e Jardim-de-infância de Santa Catarina vão fechar e os meninos não podem voltar para cá.
E eu penso:
“Vão mandar-nos embora? Vamos ficar de castigo? Porquê? Eu não fiz nenhuma asneira e os meus amigos também não!
“Não acredito. Não pode ser verdade!”
Olho à minha volta e continuo a pensar:
“Estes adultos são muito complicados e difíceis de entender”.
“Como é possível que alguém tenha a coragem de nos mandar embora e deixar ao abandono esta “CASA” e este jardim, de onde vemos o mar!”
Será que alguém tem essa coragem?
Hoje é o dia da nossa festa e eu estou triste, muito triste.

Figueira da Foz, 30 de Junho de 2010
F.
(In "Voz da Figueira de 7 de Julho)

Este menino é um dos muitos que não entende, na sua inocência, o mundo hostil dos adultos. Não se chama Fernando, nem Fábio; só tem uma inicial porque a sua intuição infantil, diz-lhe que revelar o seu nome pode trazer-lhe a si ou aos seus, alguns dissabores. Podia ser um dos meus netos que também andaram naquela casa e que se vêm agora privados da companhia dos amigos e tal como eles, obrigados a procurar um destino incerto onde jamais, talvez, se voltem a ver.

Sobre este caso, no Diário de Coimbra de hoje, a directora da DREC, "recorda que aquele espaço , foi integrado no agrupamento das Escolas da Zona Urbana
e afirma-se disponível para articular com a Câmara Municipal da Figueira, as soluções possíveis e as que sejam necessárias".

Uma afirmação que pode querer dizer muita coisa ou, coisa nenhuma, porque "as soluções possíveis", e apresentadas nestes dois últimos anos, por quem de direito, foram ignoradas e não mereceram sequer alternativa.

A resposta dos responsáveis, para o caso da ex-CEPI de Santa Catarina, como para tantos outros, da Reforma da Educação, foi, parafraseando Santana Castilho : "Um deserto, numa imensa auto-estrada de propaganda".

Eu diria de interesses escondidos, como convém às más acções que nunca são feitas à luz do dia!...

PS.:-Este post poderia ter, e deveria ter, o simples título de: "Uma carta que faz pensar", porque chorar já fez. Mas, num momento de menos inspiração, saíu assim mesmo. Está feito, feito está!

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