Acabo de ver na TVI um documentário sobre a Irlanda, essa mesma Irlanda que ainda há bem pouco tempo era apontado como um país de sucesso (o tigre Celta agora no rol dos PIGS) após a sua adesão à UE.
Fiquei perplexo pois a reportagem deu imagens de um País à beira da pobreza, com milhares de irlandeses a braços com hipotecas de casas por pagar e milhares de desempregados. Um cenário que em quase tudo nos faz lembrar Portugal o que leva alguns analistas a dizer que, pelo menos, um país nos próximos cinco anos vai sair da zona Euro.
Os que sairem não o vão fazer por vontade própria, mas a sua ilusão de que a Europa era um novo eldorado sem regras, onde tudo lhes seria permitido, acabará por lhes ditar uma desistência humilhante e um futuro incerto.
Em qualquer apeadeiro poderá ficar a última carruagem deste comboio europeu que não se sabe bem se chegará ao seu destino. Se a outras acontecer o mesmo, poderemos assistir ao princípio do fim de mais um sonho da hegemonia europeia, tantas vezes tentado, sem êxito.
Um desfecho desta natureza será muito mau para Portugal. Mas, infelizmente, é um cenário que temos de ter em conta, por razões históricas e porque alguém, há cerca de trinta anos, já profetizara essa possibilidade:
“Uma Europa unida pela economia ou pela força nunca foi possível e, por isso, tem de se concluir que não é viável. Apenas tem sido possível e viável uma Europa diversa, múltipla, pluralista em termos nacionais. Nessa Europa, encontramos quatro forças constantes e principais: os ingleses, os germânicos, os latinos e os eslavos. Entre essas coordenadas tem oscilado a crónica europeia. Essas quatro forças, encabeçadas por um país ou grupos de países, consoante o momento histórico, têm-se aliado, coligado, guerreado e dividido e tem escrito a história da Europa. Tudo isto significa que a hegemonia de uma força não será tolerada pelas outras, sendo inútil usar processos políticos, militares ou económicos, mais ou menos disfarçados. As realidades acabarão por se impor.” – (Franco Nogueira sobre a integração europeia).
E para que não se diga que sou tendencioso ao citar este texto do embaixador Franco Nogueira (uma mente brilhante dirão alguns, um homem do passado dirão outros), cito também, Eduardo Lourenço (um europeísta convicto): “Portugal deve menos, “ao orgulho e à arrogância inerentes à sociedade europeia, tão contente consigo, do que ao ressentimento de todos os que dela se crêem excluídos – ou o são realmente – enquanto banquete dos deuses.”
E ainda, Maria Manuel Baptista: “na verdade, o discurso utópico mais recente de Eduardo Lourenço, e que se tem espraiado sobretudo pelas temáticas ligadas à construção/invenção da Europa (reflexão sempre determinada pela questão da Liberdade e da Democracia), designa-o, frequentemente, o próprio filósofo, como discurso mítico.
(Pesquisa feita em: o mito e o espelho de José Eduardo Franco).
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